sexta-feira, 29 de junho de 2012

Nem sob forte violência Dilma entregou os colegas


Durante quase um mês Dilma ficou sozinha na cela em Juiz de Fora, submetida a sessões de interrogatórios e a todo tipo de tortura.
A passagem de Dilma pelo cárcere de Juiz de Fora foi mais mineira, no sentido de reservada, mas nem por isso menos dura. Conforme depoimento pessoal, durante quase um mês Dilma ficou sozinha na cela, na condição de clandestina, sendo torturada em Juiz de Fora. “Fiquei em absoluto isolamento, mantendo contatos apenas com os meus torturadores, entregue por um carcereiro, que também me conduzia ao banheiro, quando conseguia andar. Nesse período, fui submetida, por quase um mês, a interrogatórios e a toda sorte de torturas”, revelou a presidente, por escrito, em documentação anexa ao depoimento pessoal, que consta do processo mineiro do Conselho Estadual de Direitos Humanos (Conedh-MG).
Nem sob tortura intensa, a então jovem militante política de esquerda, de codinome Estela, confirmou a suspeita de infiltração de colegas da própria organização no meio policial e militar. Tampouco revelou a identidade desses tais militantes infiltrados nem sequer o nome da organização a que pertencia. Somente em 2001, diante da dupla de estagiários do Conedh-MG, Dilma revelou o nome de todos os grupos a que pertencera. Em voz alta, revelou com todas as letras: “Eu pertenci às seguintes organizações: Colina, Polop, O… (lê-se Ó Pontinho) e VAR. A Polop deu Colina, VPR e POC”.
Na realidade, no período em que Gabriel (Ângelo Pezzuti) estava preso e tentava estabelecer contato com Mônica (Oroslinda) e com Estela, no início de 1970, Dilma já havia deixado a Colina. Sabe-se que, no fim de 1969, o Colina seria praticamente dizimada, com a prisão, tortura e perseguição de seus militantes em Belo Horizonte, obrigados a viver na clandestinidade no Rio, São Paulo e em cidades do interior do país. No carnaval de 1969, o Colina já havia sido fundida com a VPR e Estela passaria a adotar o codinome de Vanda. Antes disso, em uma fase de transição para a criação do novo grupo, Colina e VPR foram provisoriamente batizados de Ó Pontinho.
“Ainda vai ser necessário mais tempo para que essa história bonita de luta seja entendida sem paixão”, compara José Francisco da Silva, que era secretário-adjunto de Direitos Humanos na época e foi responsável por enviar a jovem equipe à capital gaúcha. Embora tivesse direito à indenização, por ter militado na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, a antiga Fafich da Rua Carangola, Chico nunca reivindicou o valor, evitando qualquer risco de manchar a imagem da comissão mineira, a primeira do país a começar a pagar as indenizações às vítimas de tortura.
Perante os “meninos do Chico”, Dilma continua contando a história do Brasil depois de 31 de março de 1964, data do golpe militar. “Em Minas, fiquei só com a Terezinha. Um dia, a gente estava nessa cela, sem vidro. Um frio de cão. Eis que entra uma bomba de gás lacrimogênio, pois estavam treinando lá fora. Eu e Terezinha ficamos queimadas nas mucosas e fomos para o hospital”, continua a presidente. Não se sabe quem teria sido essa Terezinha.
No movimento de esquerda de BH, onde Dilma militava, não há registros conhecidos da participação de uma Terezinha, nem com esse nome verdadeiro nem falso. “Eu me lembro da Dilma quando ia visitar a minha mãe na prisão. Eu tinha apenas 15 anos. Gostaria de me esquecer dessas memórias”, afirma Eugênia Cristina Godoy de Jesus Zerbini, hoje com 58 anos, advogada e escritora em São Paulo. Ela é filha da única Terezinha já citada nos escritos conhecidos sobre a época da ditadura. “Se a passagem deu-se em Minas, em 1972, asseguro que essa Terezinha não é minha mãe”, diz.
“Mamãe ficou detida de março a dezembro de 1970 na Oban (Operação Bandeirantes) de São Paulo. Em 1972, ela não poderia estar em Juiz de Fora com a Dilma, pois já tinha ganhado a liberdade e me pegava diariamente na faculdade com seu Dodge Dart”, explica, por telefone, da capital paulista. Hoje com 84 anos, Therezinha Zerbini era casada com o general Euryale de Jesus Zerbini, desertor da ditadura, e fundou o Movimento Feminista pela Anistia, denunciando que havia perseguidos políticos sendo presos e torturados no Brasil.
E quanto ao estudante da Faculdade de Medicina da UFMG Ângelo Pezzuti, dirigente do Colina? Segundo o grupo Tortura Nunca Mais, Ângelo foi banido do país em 1970, trocado com outros 39 companheiros, inclusive o irmão Murilo Pezzuti, pelo embaixador alemão (esse foi um dos sequestros de embaixadores praticados pelas organizações de luta armada com o objetivo de libertar seus militantes torturados no país). Em 1971, Ângelo encontrou-se no Chile com sua mãe, Carmela Pezzuti, também banida do Brasil por suas atuações políticas. Com o golpe chileno, Ângelo foi para o Panamá e depois para a França, onde morreria em Paris, em 1974, em um acidente de motocicleta.
Repercussão
El Mundo (Espanha)
Dilma Foi torturada com choques elétricos durante a ditadura
Além de eletrochoques, a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, sofreu pancadas que lhe arrancaram um dente, também enfrentando torturas psicólogicas com a simulação de fuzilamento, segundo divulgaram os jornais Correio Braziliense e Estado de Minas.
ABC (Espanha)
Dilma Rousseff foi torturada com eletrochoques na ditadura
A presidente foi golpeada até que lhe arrancaram um dente e foi vítima de técnicas de tortura psicológica com a simulação de um fuzilamento, segundo divulgam os diários Correio Braziliense e Estado de Minas.
Te Interessa (Espanha)
A presidente do Brasil foi torturada com eletrochoque durante a ditadura
Dilma Rouseff relata os escabrosos métodos de tortura que sofreu durante os três anos em que esteve presa por se opor ao regime militar.
El Mercurio (Chile)
A imprensa brasileira revela as torturas sofridas por Dilma Rousseff
A presidente recebeu choques elétricos durante a ditadura, segundo divulgaram os diários Correio Braziliense e Estado de Minas.
Cooperativa (Chile)
Presidente relatou eletrochoques e pancadas sofridas durante a ditadura militar
Uma entrevista concedida pela presidente do Brasil, Dilma Rousseff, ao Conselho de Direitos Humanos de Minas Gerais, em 2001, foi divulgada pelos diários Correio Braiziliense e Estado de Minas, em que ela relata as torturas sofridas quando esteve presa na ditadura.
Emol (Chile)
Imprensa brasileira revela torturas sofridas por Dilma durante a ditadura
A presidente sofreu choques elétricos durante a ditadura, segundo divulgaram os diários Correio Braziliense e Estado de Minas.
Crónica Viva (Argentina)
Brasil: meios revelam detalhes de torturas a Dilma Rousseff
A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, foi torturada com eletrochoques enquanto permanecia presa durante a última ditadura brasileira, informa neste domingo a imprensa deste país.
24 Horas (Peru)
Dilma Rousseff recebeu choques elétricas e pancadas durante a ditadura brasileira
A presidente do Brasil foi torturada com largas sessões de eletrochoques e simulações de fuzilamento entre 1970 e 1973, quando era militante de esquerda e lutava contra o regime militar, informou a imprensa de seu país.
El Financiero (México)
Dilma Rousseff, vítima de tortura
A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, relatou em 2001 a uma comissão de direitos humanos as torturas que sofreu entre 1970 e 1973, quando aos 20 anos militava no Comando da Libertação Nacional (Colina), segundo revelaram os jornais Correio Braziliense e Estado de Minas.
O Globo
Documentos detalham tortura sofrida por Dilma na ditadura
Em relato inédito, a presidente Dilma Rousseff contou detalhes de sessões de tortura às quais foi submetida na prisão em Juiz de Fora (MG), quando presa política, na década de 1970. Ela narrou seu sofrimento ao Conselho dos Direitos Humanos de Minas (Conedh-MG), que a ouviu em 2001, nove anos antes de ascender ao Planalto. O depoimento, divulgado pelo jornal Estado de Minas expõe um capítulo ainda pouco conhecido da militância política da petista: os castigos em seu estado natal, onde iniciou a trajetória subversiva.
Fonte: Estado de Minas

A luta e a vida


"Há pessoas que lutam um dia e são boas,
há outras que lutam um ano e são melhores,
há aquelas que lutam muitos anos e são muito boas,
mas há pessoas que lutam a vida toda,
estas são imprescindíveis."
- Bertold Brecht

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Amputações - Martha Medeiros

Quando o filme 127 Horas estreou no cinema, resisti à tentação de assisti-lo. Achei que a cena da amputação do braço, filmada com extremo realismo, não faria bem para meu estômago. Mas agora que saiu em DVD, corri para a locadora. Em casa eu estaria livre de dar vexame.

Quando a famosa cena se iniciasse, bastaria dar um passeio até a cozinha, tomar um copo d´água, conferir as mensagens no celular, e então voltar para a frente da TV quando a desgraceira estivesse consumada. Foi o que fiz.

O corte, o tão famigerado corte, no entanto, faz parte da solução, não do problema. São cinco minutos de racionalidade, bravura e dor extremas, mas é também um ato de libertação, a verdadeira parte feliz do filme, ainda que tenhamos dificuldade de aceitar que a felicidade pode ser dolorosa. É muito improvável que o que aconteceu com o Aron Ralston da vida real (interpretado no filme por James Franco) aconteça conosco também, e daquele jeito.

Mas, metaforicamente, alguns homens e mulheres conhecem a experiência de ficar com um pedaço de si aprisionado, imóvel, apodrecendo, impedindo a continuidade da vida. Muitos tiveram a sua grande rocha para mover e, não conseguindo movê-la, foram obrigados a uma amputação dramática, porém necessária.

Sim, estamos falando de amores paralisantes, mas também de profissões que não deram retorno, de laços familiares que tivemos de romper, de raízes que resolvemos abandonar, cidades que deixamos. De tudo que é nosso, mas que teve que deixar de ser, na marra, em troca da nossa sobrevivência emocional. E física, também, já que insatisfação é algo que debilita.

Depois que vi o filme, passei a olhar para pessoas desconhecidas me perguntando: qual será a parte que lhes falta? Não o “Pedaço de Mim” da música do Chico Buarque, aquela do filho que já partiu, mutilação mais arrasadora que há, mas as mutilações escolhidas, o toco de braço que tiveram que deixar para trás a fim de começarem uma nova vida.

Se eu juntasse alguns transeuntes, aleatoriamente, duvido que encontrasse um que afirmasse: cheguei até aqui sem nenhuma amputação autoprovocada. Será? Talvez seja um sortudo. Mas é mais provável que tenha faltado coragem.

Às vezes o músculo está estendido, espichado, no limite: há um único nervo que nos mantém presos a algo que não nos serve mais, porém ainda nos pertence. Fazer o talho sangra. Machuca. Dói de dar vertigem, de fazer desmaiar. E dói mais ainda porque se sabe que é irreversível. A partir dali, a vida recomeçará com uma ausência.

Mas é isso ou morrer aprisionado por uma pedra que não vai se mover sozinha. O tempo não vai mudar a situação. Ninguém vai aparecer para salvá-lo. 127 horas, 2.300 horas, 6.450 horas, 22.500 horas que se transformam em anos.

Cada um tem um cânion pelo qual se sente atraído. E um cânion do qual é preciso escapar.



Jornal Zero Hora, 31 de julho de 2011.

sábado, 23 de junho de 2012

Fala desse livro que cê leu, do filme que cê viu
Do lugar que cê já foi, das músicas que curtiu, tudo.
Quero seu mundo como lar, ei
Do seu lado sinto que achei meu lugar
Nem direto como Catra, nem meloso como Vando
Tentando te fazer sacar do que tô falando
Eu enrolo, eu olho, se pá
Sem me entregar sem estragar, vô devagar

Não Vejo a Hora - Emicida

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Sapato Novo


(...) - bem, como vai você?
- levo assim, calado,
de lado do que sonhei um dia
como se a alegria recolhesse a mão
pra não me alcançar

poderia até pensar que foi tudo sonho
ponho meu sapato novo e vou passear
sozinho, como der, eu vou até a beira
nem choro mais
só levo a saudade, morena
e é tudo que vale a pena