terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Registro da falta

Quero registrar o quanto sinto sua falta esta noite. Falta de deixares que eu deite no seu ombro e de conversar, ouvir teus conselhos, tuas broncas e críticas. Críticas até às coisas que acredito. Sim, falta disto também, falta de ouvir tanta honestidade.

Sinto sua falta apesar dos meus erros e falhas. E também dos teus erros e falhas. Espero em silêncio que um dia me perdoes. Espero sem silêncio um dia ser melhor.

"Não vá embora
Fique um pouco mais
Ninguém sabe fazer o que você me faz."

Teorema - Legião Urbana

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Oração de São Francisco de Assis

Religião, crença e fé são coisas muito subjetivas. Não falo aqui sobre as minhas concepções, não quero doutrinar ninguém.

A oração de São Francisco de Assis - que foi um grande homem, guerreiro e justo - vai além de religião -muito além. É uma tarefa de cada ser humano para com a sociedade, para aquele que tá do lado. Se não acreditares em algo superior, tudo bem. Usa para melhorar o mundo que vives...


Oração de São Francisco de Assis

Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor,
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão,
Onde houver discórdia, que eu leve a união,
Onde houver dúvida, que eu leve a fé,
Onde houver erro, que eu leve a verdade,
Onde houver desespero, que eu leve a esperança,
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria,
Onde houver trevas, que eu leve a luz.

Ó Mestre, fazei que eu procure mais consolar que ser consolado;
Compreender que ser compreendido;
Amar, que ser amado.
Pois é dando que se recebe
É perdoando que se é perdoado
E é morrendo que se nasce para a vida eterna.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Como gosto das pessoas

"Mas gosto, gosto das pessoas. Não sei me comunicar com elas, mas gosto de vê-las, de estar a seu lado, saber suas tristezas, suas esperas, suas vidas. Às vezes também me dá uma bruta raiva delas, de sua tristeza, sua mesquinhez. Depois penso que não tenho o direito de julgar ninguém, que cada um pode — e deve — ser o que é, ninguém tem nada com isso. Em seguida, minha outra parte sussurra em meus ouvidos que aí, justamente aí, está o grande mal das pessoas: o fato de serem como são e ninguém poder fazer nada. Só elas poderiam fazer alguma coisa por si próprias, mas não fazem porque não se vêem, não sabem como são. Ou, se sabem, fecham os olhos e continuam fingindo, a vida inteira fingindo que não sabem"

Concordo com este fragmento de Limite Branco, do Caio Fernando Abreu. Às vezes gostamos das pessoas mesmo sem saber como se comunicar com elas. Porque não é preciso saber se comunicar para gostar, ainda que isso atrapalhe as relações. Sim, as relações. Mas vale lembrar que gostar não significa necessariamente se relacionar.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Quem se defende - Bertold Brecht

"Privatizaram sua vida, seu trabalho, sua hora de amar e seu direito de pensar.
É da empresa privada o seu passo em frente, seu pão e seu salário.
E agora não contente querem privatizar o conhecimento,
a sabedoria, o pensamento, que só à humanidade pertence.
A corrente impetuosa é chamada de violenta
Mas o leito do rio que a contém
Ninguém chama de violento.
A tempestade que faz dobrar as betulas
É tida como violenta
E a tempestade que faz dobrar
Os dorsos dos operários na rua?
Quem se defende porque lhe tiram o ar
Ao lhe apertar a garganta, para este há um parágrafo
Que diz: ele agiu em legítima defesa.
Mas o mesmo parágrafo silencia
Quando vocês se defendem porque lhes tiram o pão.
E no entanto morre quem não come, e quem não come o suficiente
Morre lentamente.
Durante os anos todos em que morre
Não lhe é permitido se defender.
Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é de hábito como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada, de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural
nada deve parecer impossível de mudar."

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Navio Negreiro

"Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!"

trecho de Navio Negreiro, de Castro Alves.

De onde vem a calma? (2)

Eu não vou mudar não. Eu vou ficar são, mesmo se for só, não vou ceder. Deus vai dar aval sim, o mal vai ter fim e no final assim calado eu sei que vou ser coroado rei de mim.

Los Hermanos

De onde vem a calma?

De onde vem, acalma.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

A loucura e a vertigem

Às vezes sinto como se eu fosse ficar louca de tanto pensar. E sinto uma curiosa vontade disso acontecer. Uma vertigem.

A felicidade é o desejo de repetição

"Se Karenin fosse um ser humano em vez de um animal, certamente já teria dito a Tereza muito tempo antes: 'Escute, não acho graça de ter que levar todos os dias um croissant na boca. Não poderia descobrir alguma coisa nova?'. Essa frase contém toda a condenação do homem. O tempo humano não gira em círculos, mas avança em linha reta. É por isso que o homem não pode ser feliz, pois a felicidade é o desejo de repetição."

A Insustentável Leveza do Ser - Milan Kundera

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Carta a Stalingrado - Drummond

No começo de fevereiro de 1943 a URSS começou a virar o jogo contra a Alemanha nazista na Segunda Guerra. Stalingrado foi uma das cidades russas que mais se sacrificou pela vitória do povo e derrota do nazismo.

Drummond escreve "Carta a Stalingrado" homenageando a cidade (e toda a URSS), que foi símbolo da vitória popular sobre o nazismo, depois de anos de pavor e guerra. Eu não era nascida durante e ao fim da Segunda Guerra, mas acredito que a maior parte da população mundial compartilhava do mesmo sentimento de Drummond:


Carta a Stalingrado [*]

Carlos Drummond de Andrade

Stalingrado...
Depois de Madri e de Londres, ainda há grandes cidades!
O mundo não acabou, pois que entre as ruínas
outros homens surgem, a face negra de pó e de pólvora,
e o hálito selvagem da liberdade
dilata os seus peitos, Stalingrado,
seus peitos que estalam e caem,
enquanto outros, vingadores, se elevam.

A poesia fugiu dos livros, agora está nos jornais.
Os telegramas de Moscou repetem Homero.
Mas Homero é velho. Os telegramas cantam um mundo novo
que nós, na escuridão, ignorávamos.
Fomos encontrá-lo em ti, cidade destruída,
na paz de tuas ruas mortas mas não conformadas,
no teu arquejo de vida mais forte que o estouro das bombas,
na tua fria vontade de resistir.

Saber que resistes.
Que enquanto dormimos, comemos e trabalhamos, resistes.
Que quando abrimos o jornal pela manhã teu nome (em ouro oculto) estará firme no alto da página.
Terá custado milhares de homens, tanques e aviões, mas valeu a pena.
Saber que vigias, Stalingrado,
sobre nossas cabeças, nossas prevenções e nossos confusos pensamentos distantes
dá um enorme alento à alma desesperada
e ao coração que duvida.

Stalingrado, miserável monte de escombros, entretanto resplandecente!
As belas cidades do mundo contemplam-te em pasmo e silêncio.
Débeis em face do teu pavoroso poder,
mesquinhas no seu esplendor de mármores salvos e rios não profanados,
as pobres e prudentes cidades, outrora gloriosas, entregues sem luta,
aprendem contigo o gesto de fogo.
Também elas podem esperar.

Stalingrado, quantas esperanças!
Que flores, que cristais e músicas o teu nome nos derrama!
Que felicidade brota de tuas casas!
De umas apenas resta a escada cheia de corpos;
de outras o cano de gás, a torneira, uma bacia de criança.
Não há mais livros para ler nem teatros funcionando nem trabalho nas fábricas,
todos morreram, estropiaram-se, os últimos defendem pedaços negros de parede,
mas a vida em ti é prodigiosa e pulula como insetos ao sol,
ó minha louca Stalingrado!

A tamanha distância procuro, indago, cheiro destroços sangrentos,
apalpo as formas desmanteladas de teu corpo,
caminho solitariamente em tuas ruas onde há mãos soltas e relógios partidos,
sinto-te como uma criatura humana, e que és tu, Stalingrado, senão isto?
Uma criatura que não quer morrer e combate,
contra o céu, a água, o metal, a criatura combate,
contra milhões de braços e engenhos mecânicos a criatura combate,
contra o frio, a fome, a noite, contra a morte a criatura combate,
e vence.

As cidades podem vencer, Stalingrado!
Penso na vitória das cidades, que por enquanto é apenas uma fumaça subindo do Volga.
Penso no colar de cidades, que se amarão e se defenderão contra tudo.
Em teu chão calcinado onde apodrecem cadáveres,
a grande Cidade de amanhã erguerá a sua Ordem.

[*] Extraído do livro A Rosa do Povo (poemas escritos entre 1943 e 1945). Rio de Janeiro: Record, 1987