
Ontem assisti "Não Me Abandone Jamais", incrível como o filme mexe com a gente ao nos impor questionamentos sobre a vida, sobre seu sentido, propósito e também valor. Saber por que estamos aqui e quanto tempo iremos viver nos faria mais ou menos felizes?
O filme tem como protagonistas Kathy, Tommy e Ruth. Os três passam toda a infância juntos em um colégio interno misterioso (Hailsham), que preza em primeiro lugar pela saúde das crianças. Kathy, ao se aproximar de Tommy para ajudá-lo com os seus ataques de raiva, apaixona-se por ele – e ele por ela. Porém ele acaba se envolvendo com Ruth. Em Hailsham as crianças crescem envoltas por várias lendas e pela idéia de que são especiais. Até que a nova tutora, Lucy, conta àquelas crianças que diferentemente da maioria, que pode escolher seu futuro, elas tem um destino pré-estabelecido e que não pode ser mudado. Vivem confinadas, em uma realidade paralela, esperando até que seu destino se cumpra – serem doares de órgãos.
Trata-se de um drama de ficção científica com um grande diferencial – e que soube ser muito bem aproveitado -: não se passa no futuro, e sim no passado. Apesar de ser uma ficção científica, é uma história absolutamente plausível. A mistura dos gêneros foi feita de forma impecável, o filme discorre de forma calma e sensível.
As personagens vivem num mundo que não é delas, apenas esperando até que seu destino seja cumprido, não são donas dos próprios corpos, de sua existência ou de seu futuro. O filme apresenta muitas questões filosóficas, uma delas é: até que ponto os seres humanos são senhores de seus destinos e possuem pleno domínio de suas vidas? Também é lançada a idéia de que “os piores” (como a sociedade deseja chamá-los) estão aqui somente para servir aos “melhores”. E quem estabeleceu o conceito de pior e melhor?
Retrata no micro, o macro. Cada uma das personagens principais representa um jeito de encarar a vida –e a morte. Com sobriedade e aceitação, buscando ajudar e aliviar a dor do próximo; sendo arrogante, tomando decisões (muitas vezes egoístas) por medo de ficar sozinha; tendo acessos de raiva e se deixando levar pelas pessoas e circunstâncias ao redor.
Fiquei o tempo todo me questionando por que eles não faziam nada contra aquele destino tão injusto, por que não rebelavam, mas depois pude entender que não iam contra tudo aquilo, que se resignavam, pois aquele era o foco do filme, era aquilo que estava lá que deveria ser mostrado.
O longa é denso, melancólico, exaustivo e inquietante. A morte ronda os protagonistas, o que nos causa inquietação – mais ainda quando percebemos que, assim como Kathy, Tommy e Ruth, também iremos nos deparar com ela um dia.
Passei o filme todo incomodada e acho que é a intenção dele. Nos incomodar, fazer pensar sobre coisas que vivemos tentando evitar. Pensar nas questões ditas acima, pensar sobre a evolução, sobre a humanidade, a sociedade, sobre a morte, sobre a vida...sobre o sentido e o propósito de tudo isso.
Minha crítica é que o filme deveria ser mais concentrado nas implicações filosóficas e menos no triângulo amoroso adolescente, que aliás não convence muito.
“Não me abandone jamais” é baseado na obra homônima de Kazuo Ishiguro, quero ler!