terça-feira, 30 de abril de 2013


- Por favor... Cativa-me! Disse a raposa.

- Bem quisera, disse o príncipezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.

- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me !

- Que é preciso fazer? Perguntou o príncipezinho.

- É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal entendidos. Mas, cada dia, te sentará mais perto...


quinta-feira, 25 de abril de 2013

José - Drummond


A festa acabou, a luz apagou, tu sumiu do povo, a noite esfriou. E agora? E agora, Anna? Tu que ama, que protesta...Está sem mulher, sem discurso, sem carinho - e já não pode beber. Já não podia, e bebeu. Ficou sem mulher, sem discurso, sem carinho. Cuspir já não deve. O silêncio é o mais sensato. Mas o silêncio corrói. O riso não vem, a utopia se foi e parece que tudo acabou, que tudo fugiu, que tudo mofou. Quer abrir a porta, mas que porta? Qual porta? A chave serve? Morrer no mar? O mar secou. Ir pra São Paulo? O orgulho não deixa - ou seria o bom senso? Se você cansasse, Anna...mas você é dura! Virou uma pedra, como disse a mulher que te escorreu pelas mãos, sempre com "aquele jeito de se fazer de indiferente e se fechar". Mas espera! Espera! Como, Anna? Foi ela, ela mesma que disse no meio de uma frase "Mas a Anna, por ser muito amável..."...

Aí Anna, você fica sozinha qual bicho-do-mato, sem cavalo preto que fuja a galope. Anna, fugir pra onde?



E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Sinto que preciso voltar pra cá. Só não sei ainda pra escrever o quê.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Domésticas ou serviçais?


A sociedade brasileira ainda mantém a visão casa grande/senzala que existe desde os tempos da escravidão. As relações com trabalhadores domésticos tem estreita relação com nosso passado escravocrata. Muitos ainda encaram os trabalhadores domésticos como pessoas que devem ser gratas por estarem empregadas, quando não os tratam como propriedade bens da família, sem permiti-los ter qualquer tipo de vida particular.

O trabalho doméstico como atividade remunerada é extremamente desvalorizado, concentra vários tipos de exclusão, como baixa remuneração, jornada de trabalho longa e ilegalidade na contratação.

A desigualdade social brasileira tem bases nessas relações e muitos acham que é um absurdo que empregadas domésticas, babás, porteiros, jardineiros ou serventes queiram salários mais altos e os mesmos direitos trabalhistas que profissões mais "especializadas".

Por que a empregada dormir no emprego? Ela não tem casa, não tem família? Nós dormimos no emprego? Como fazem as pessoas que trabalham 12 horas por dia, como muitas domésticas, mas não tem dinheiro para contratar uma empregada? Como as domésticas cuidam das suas próprias casas? Quem cuida dos seus filhos, quem os leva passear e os educa?

Qual o impacto que a falta de direitos trabalhistas teve na vida de milhares de pessoas durante anos? Deve haver até mesmo um impacto na economia dessa parcela da população, mas não interessa pesquisar isso, não é mesmo?

Toda essa polêmica vinda com a conquista dos direitos trabalhistas para as domésticas nos mostra como ainda estamos presos a uma visão de que o trabalho doméstico é um trabalho “menor”, inferior, seja ele exercido pela mãe ou por uma empregada.

As políticas públicas contribuem de fato para romper com a ideia e o ciclo que transfere a sobrecarga do trabalho doméstico e de cuidados sempre para o elo mais fraco. A equidade de direitos entre trabalho doméstico e outras formas de trabalho é um passo importante nessa direção.

Se não temos tempo suficiente para trabalhar e cuidar das tarefas domésticas, devemos lutar pela redução da jornada de trabalho. É um passo importante para nos dedicarmos – e deixar que se dediquem – a questões que afetam a todas e todos nós. Trabalhar menos no mercado para ter mais tempo para os “trabalhos” que não são assim considerados ou percebidos — militar, ir ao cinema, estudar, se dedicar à leitura, às artes, a estar com quem gostamos. E que os estudos e pesquisas não sejam para prever catástrofes, mas para prever soluções que nos propiciem melhor qualidade de vida.

terça-feira, 26 de março de 2013


O que me dá raiva
São as flores
E os dias de sol
São os seus beijos
E o que eu tinha
Sonhado pra nós

São seus olhos e mãos
E seu abraço protetor

sexta-feira, 1 de março de 2013

Você, você


Me sopre novamente as canções
Com que você me engana
Que blusa você, com o seu cheiro
Deixou na minha cama?
Você, quando não dorme
Quem é que você chama?


Pra quem você tem olhos azuis
E com as manhãs remoça
E à noite, pra quem
Você é uma luz
Debaixo da porta?
No sonho de quem
Você vai e vem
Com os cabelos
Que você solta?
Que horas, me diga que horas, me diga
Que horas você volta?



Chico Buarque